sexta-feira, 23 de setembro de 2011

estou entalada
de forma tão violenta quanto todas as brutalidades que tenho presenciado e vivido, dia após dia
assustada com o fato de a coisa ser parte tão parte de nós que nem sequer 
conseguimos perceber o que há de genuinamente violento nelas.
a cultura é transformada de forma violenta
a politicagem se disfarça terrivelmente de política
sem reflexão, cuidado, respeito.
violenta-se.
violentamente motoqueiros voam no trânsito
violentamente os corpos são mutilados
arrancados da casa e do desejo.
violentamente apropriam-se do discurso alheio
violentamente colocam palavras em nossas bocas.
violentamente são disparadas mentiras embotadas em quase verdades 
de violência vem recheado o amor.
de repente, violentamente vem o choro
que não se sabe explicar
a gota que transborda a água do copo chega como pedra.
pedras são violentamente atiradas
descuidadosamente, sem razão, sem desejo, sem direito, sem verdade.
"vontade de verdade".
vontade de verdade, por mais violenta que seja
amém.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

hoje te peço permissão pra me fazer você


"(...) Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração
                                        [ faminto.
— Oh cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal
                                        [ põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de
                                       [ sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
— Então cantarei a exaltante alegria da morte. (...)"

o amor em visita, herberto helder