sexta-feira, 16 de julho de 2010

re des cobrir

noite caída. como há muito não acontecia, havia uma rede. a lua, próxima, me afrontava rodeada por inúmeras estrelas. no balançar, ela fragmentava-se entre as folhas. na rede, a sombra da árvore. o barulho da caixa d'água me trazia de volta para um lugar de antes. e de agora. um ar novo, cheio de memórias. um quadro que me habita. mesmo que vez ou outra eu invente seu esquecimento.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo."

sábado, 3 de julho de 2010

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"Some, porra!"

Acordei e a poesia não estava mais. Sumiu. Assim como o navegador, o cão e o arco-íris, ela havia ido embora. Talvez ela vivesse na gaiola da menina. Ou na bicicleta do menino. Fato é que há muito a menina havia aberto a porta da gaiola que separava os pássaros. Ela havia lhes permitido cruzar! Mas a menina ainda era tão medrosa... Espera. De onde vem agora a menina? Comecei comigo, não?

Então, era eu. Sem Ana, Joana, menina, mulher, marido, lençol, trompete, pássaro. Não é fácil encontrar a palavra que cabe. A poesia foge. Corro desenfreada procurando em todas as portas, lutando por algo que nunca se lutou antes, com as armas que tenho, com as que não tenho, com as que nunca tive, com as que nunca me permiti ter. Armas dessas que dão tiro que sai pela culatra? Quase sempre. Sem saber atirar, não se acerta o alvo.

Não encontrando o alvo, corri, gritei, fugi, senti medo, senti força, sorri, falei, falei, falei, busquei, fugi, fugi, fugi. Parece que quando se quer fugir, dá-se um passo e o resto vem no piloto automático. Como agora. O assunto foge. Tudo vem ao caso. Nada vem ao caso. Nada se entrelaça. Não há tecido. Mas há saudade. Há verdade, vício, confusão. Uma forma de fugir é ficar, sem estar. Sem estar. Sem lugar. A palavra aqui não encontra um lugar. Insisto, porque escrever sempre foi muito fluido. Mas agora, agarra. Por que correr tanto pra dar sempre no mesmo lugar? Às vezes, por mais que saibamos que existem muitas portas, parece que não há saída. A saída é sumir? Acabar com a poesia, “porra”? Sim. E não. Não sei qual é a saída. Acreditava saber. Mas, no piloto automático, dei muitos passos pra trás e perdi a luz no fim do túnel. Só me faltava esta. Luz no fim do túnel? Que isso? De onde vem? A luz é da vela que a gente mesmo acende. E apaga. Apagar... É sempre uma boa idéia, mas insisto, porque nunca havia me permitido insistir. Insisto aqui porque aprendi esta outra forma de fugir. Aprendi a buscar o que jamais quero encontrar. E, como a vela que se acende, encontra-se. Insisto ainda? Parece não ter fim. Por que insisto ainda? Ninguém mais agüenta ler. Vamos, chega. Mas eu quero tanto achar a poesia! Chorar não ajuda. Não choro mais. Tem dias que não durmo também. Ontem não dormi. Agora a cabeça dói. Fiquei pensando uma forma de enterrar a poesia. Será a mesma que quero achar? Será que quero? Ai, quero dormir. Poderia ser tão fácil! Bastaria sair daqui, levantar e dormir. Daqui a quatro horas eu acordaria outra, exatamente igual. Tudo exatamente igual. Igual e completamente transformado. Porque está transformado. Apesar de cair onde não se deve. “Se beber, não dirija”. Não dirija, não invista. Espera. O caminho há de vir. A poesia também. A casa, o cachorro, a pausa. A pausa. Vou entrar de férias, sem fim.

desafeto em gotas

Parecia tão justo!
A porta era aquela.
Sem pílulas pra encolher nem aumentar.
As cores eram aquelas, o calor era aquele, era aquela pele. A casa do sol?
Não eram 80 cachorros. Era um. E era tão alegre!
Um dia começou a chover.
E não parou mais.

Daí o despejo. Uma hora a chuva encharca...

magritte encontra lacan

retroativo

"passarinho que se debruça, o vôo já está pronto"?