terça-feira, 1 de novembro de 2016

do buraco para a paciência. ando gostando dessa coisa de baralho.
e de textos curtos. (10 segundos)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

destecendo a trama de penélope em 4 minutos à luz da evolução

o herói tornou a ítaca depois de 19 anos, onze meses e 29 dias. pensou que a festa fosse guerra e sentiu simpatia pelo cheiro fálico da disputa. embebedou-se com os pretendentes; sentiu saudades de calypso;
deixou cair da carteira, cheia de notas herdadas de seu pai, o pobre laerte, um fio de cabelo de cirse.
mostrou os selfies tirados com os argonautas em uma noite em que bebeu todas as caipirinhas do mundo e, histérico, confessou que estava pouco preocupado com as remoções pró-copa.
ulisses seguia preocupado com a sua evolução. 'humano, demasiado humano'.
revelou, inclusive, seu perfil secreto no facebook, que lhe garantia um contato facilitado com tirésias.
trocou a colcha delicadamente tecida por penélope por uma comprada na 25 de março. depois de flertar com as amas, beijou a testa de penélope e declarou amor eterno. amor eterno e incondicional a si. e a ninguém mais. ulisses realmente sabia amar. na palestina e nas favelas do brasil, pessoas seguiram morrendo ao som da paz universal.

domingo, 22 de dezembro de 2013

diário espaçado de 42 dias a encontrar o corpo perdido


à cama










o primeiro contato

desejo de resistir












resignação











hospital 3
o sol na beira da cama











a perda
o colo
a aceitação
o levante
às vidas








segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

a memória do peixe

[ou o que se vive em 3 segundos]

olhar
envolver
- se
respirar
esquecer
seguir

>> ainda restam 3'57'' para voltar à borda do aquário. mas macunaíma prefere a rede. eu também.

domingo, 24 de novembro de 2013

atriz sabe chorar



acordei com desejo de atriz.

antes de dormir, trabalhei profundamente minha presença para isso.

sem cerimônia, retirei alguns bons fantasmas da gaveta grande embaixo da cama, fitei-os
fixamente, recorri à memória muscular e percebi que ainda não, ainda não alcancei a minha hora da estrela.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

estranha

vez ou outra ela aparece no portão da minha casa.
vez ou outra ela faz do portão da minha casa seu lugar seguro.
vez ou outra ela diz uma palavra. vez ou outra ela diz meia palavra.
na verdade, ela não diz.
mas vez ou outra ela pede uma meia pra esquentar os pés.
hoje o sol rachava a sua cara e ela, indiferente, dormia.
hoje a cara dela rachando no sol rachou algo maior em mim.
ela invade assim a vida. sem que nada possa se voltar contra ela.
ela é de vida invadida. vive o íntimo aos olhos de todos nós.
de nós todos que passamos e nunca a vemos.
ela que sequer deve ter uma fotografia na carteira.
ela que certamente não tem uma carteira, documento, endereço.
ela que acumula a vida em meias e sacolas.
ela que provavelmente tem consigo a lembrança da minha vida observada de soslaio.
ela, imóvel, com sua presença indiscreta.
sua presença que, assim como o canto da acaiauã parece prenunciar uma morte.
morte de algo a ser rachado.
hoje, ela rachou algo em mim.
hoje, enfim, entendi quão próxima do portão ela está.
na verdade, hoje entendi que a grade do portão não existe.
ou só existe pra mim.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

4 minutos de silêncio
pra matar a palavra antiga.

a estrada

nove meses por minas, em quatro minutos de garimpagem




sábado, 31 de agosto de 2013

intercessão

ele em mim é a presentificação de qualquer coisa que já tenha ido.
é a maturação da crença no sem fim e a um só tempo no inacabado
no por vir, no que podemos vir a ser
pro outro com o outro no outro.

ele é em mim desde a minha vinda.
tão em mim seus olhos nipônicos, sua postura, seu jeito de colocar os sapatos delicada e organizadamente na entrada da casa.
seu cuidado para pisar, para chegar.
é em mim o que dele nunca consegui ter
o que nunca pude ser
o vivido através dos passos dele.
ele em mim é a paciência para ver os intermináveis jogos de futebol ou a inquietante curiosidade que alimentava as melhores primeiras conversas emersas.
para estar junto ali.
em mim, é por ele também, a lembrança de um pais que nunca vivi
que vivo intensamente agora
nos dias e nas noites. inteiras.
em mim é a lembrança do seu ar
do ar que se foi.
é a lembrança do sorriso e da covinha
dele, em mim também acidentalmente.
em mim é confusa a lembrança dele.
é presente de esmagar o ar e depois passa.
passa e fica aqui, quieta.
numa quietude a mesma do seu sorriso quando olhava da janela da rua movimentada o único passarinho
que lhe fazia companhia na cidade. grande.
grande ele em mim. em cada cova do corpo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Nos dias de janeiro descubro um bom para 21. 
Avisto ao longe o movimento dos barcos e vejo por lá o ponto de origem. 
A deriva se mostra repentinamente no bater das ondas. 
Na armação, ponto de contemplar baleia, banho n’água o doce e o sal. 
Com o vento da bicicleta e todo o sol e verde da ilha, 
revisito 10 anos e a meninada que brotou disso. 
Estou longe. Longe de tudo que um dia conheci. Perto do dia que corre,
 da lagoa que vejo agora do alto da montanha. 
Penso na origem, ouço um pouco do que ficou esboçado; 
a apagar-se. 
Fico pensando se a memória para de pulsar
 em algum momento da vida. Porque o corpo repete aquele aperto quente
 quando encontra algum rastro do que agora ele é. 
A cigarra anuncia que o dia pode se pôr. 
Já passam das 8 e ele ainda clareia a varanda, apesar de toda a mata
 que nos cobre aqui no canto da lagoa. Restam frangipanis
 de outras terras e o barulho do motor do barco. 
Alguém aportará em instantes, sabe-se lá onde. 
Caída a noite, seguiremos para mais uma missão do máximo prazer possível. 
São dez dias no tempo do tempo. 10 passos além dali. 
De todos os Dalis. O cachorro late de cima do telhado e o vento 
norte não assusta tanto quanto o sul. Susto é bom. 
Garupa de moto pode ser tão bom quanto andar a cavalo. Pode?
 Não ando a cavalo há tempos. Há tempos sigo desejante
 do encontro com o torno e o barro. 
Há tempos espero, como se estivesse caminhando. 
Agora parece que caminho, na corrente do vento. 
 Ai, um respiro. Ai. Ai. Ai. 
Um respiro no aperto que vem quando cai o dia. 
Um respiro na alegria e nos encontros.
 Um silêncio que me deixa pertencer-me.
 Pertenço-me e vejo chegar a lua. Assim, em instantes. 
Saudades e saúdes estiveram hoje no mesmo prato de feijão com caipirinha. 
A cerâmica estala no forno. 
Uma peça antiga precisa sair para outra entrar. Entrar ar. 
Entra. Entrará.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

diante do sem fim de palavras
sem saber o que fazer com elas
sem saber o que fazer da vontade de saber
resta-nos descobrir o caminho por onde operar
o lugar onde o buraco é ainda raso
pronto para ser cavucado
ou
simplesmente olhado de cima
e esquecido numa transformação qualquer
num dia azul qualquer
numa tempestade de iansã
ou
numa simpatia à santa clara.
resta-nos escolher por onde passar
e correr, outra vez
ao vento
no tempo
das coisas
antes que a coisa em si
se perca na chuva de janeiro
no sol da marchinha de carnaval
no átimo do nada que vira argumento
que vira um nada
no nada
deste tudo que é um dia que vem
depois do outro.