domingo, 22 de dezembro de 2013

diário espaçado de 42 dias a encontrar o corpo perdido


à cama










o primeiro contato

desejo de resistir












resignação











hospital 3
o sol na beira da cama











a perda
o colo
a aceitação
o levante
às vidas








segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

a memória do peixe

[ou o que se vive em 3 segundos]

olhar
envolver
- se
respirar
esquecer
seguir

>> ainda restam 3'57'' para voltar à borda do aquário. mas macunaíma prefere a rede. eu também.

domingo, 24 de novembro de 2013

atriz sabe chorar



acordei com desejo de atriz.

antes de dormir, trabalhei profundamente minha presença para isso.

sem cerimônia, retirei alguns bons fantasmas da gaveta grande embaixo da cama, fitei-os
fixamente, recorri à memória muscular e percebi que ainda não, ainda não alcancei a minha hora da estrela.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

estranha

vez ou outra ela aparece no portão da minha casa.
vez ou outra ela faz do portão da minha casa seu lugar seguro.
vez ou outra ela diz uma palavra. vez ou outra ela diz meia palavra.
na verdade, ela não diz.
mas vez ou outra ela pede uma meia pra esquentar os pés.
hoje o sol rachava a sua cara e ela, indiferente, dormia.
hoje a cara dela rachando no sol rachou algo maior em mim.
ela invade assim a vida. sem que nada possa se voltar contra ela.
ela é de vida invadida. vive o íntimo aos olhos de todos nós.
de nós todos que passamos e nunca a vemos.
ela que sequer deve ter uma fotografia na carteira.
ela que certamente não tem uma carteira, documento, endereço.
ela que acumula a vida em meias e sacolas.
ela que provavelmente tem consigo a lembrança da minha vida observada de soslaio.
ela, imóvel, com sua presença indiscreta.
sua presença que, assim como o canto da acaiauã parece prenunciar uma morte.
morte de algo a ser rachado.
hoje, ela rachou algo em mim.
hoje, enfim, entendi quão próxima do portão ela está.
na verdade, hoje entendi que a grade do portão não existe.
ou só existe pra mim.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

4 minutos de silêncio
pra matar a palavra antiga.

a estrada

nove meses por minas, em quatro minutos de garimpagem




sábado, 31 de agosto de 2013

intercessão

ele em mim é a presentificação de qualquer coisa que já tenha ido.
é a maturação da crença no sem fim e a um só tempo no inacabado
no por vir, no que podemos vir a ser
pro outro com o outro no outro.

ele é em mim desde a minha vinda.
tão em mim seus olhos nipônicos, sua postura, seu jeito de colocar os sapatos delicada e organizadamente na entrada da casa.
seu cuidado para pisar, para chegar.
é em mim o que dele nunca consegui ter
o que nunca pude ser
o vivido através dos passos dele.
ele em mim é a paciência para ver os intermináveis jogos de futebol ou a inquietante curiosidade que alimentava as melhores primeiras conversas emersas.
para estar junto ali.
em mim, é por ele também, a lembrança de um pais que nunca vivi
que vivo intensamente agora
nos dias e nas noites. inteiras.
em mim é a lembrança do seu ar
do ar que se foi.
é a lembrança do sorriso e da covinha
dele, em mim também acidentalmente.
em mim é confusa a lembrança dele.
é presente de esmagar o ar e depois passa.
passa e fica aqui, quieta.
numa quietude a mesma do seu sorriso quando olhava da janela da rua movimentada o único passarinho
que lhe fazia companhia na cidade. grande.
grande ele em mim. em cada cova do corpo.