terça-feira, 23 de novembro de 2010

a agenda começou a reluzir, mas jamais se fazia ao alcance. fato é que perdeu-se as horas e acumulou-se uma responsabilidade maior que o fato é. a possível presença do muro ali nunca havia sido algo amedrontador. ao contrário, seria outra perspectiva. talvez aconchegassem-se por ali. no entanto, quando deparou-se com o primeiro saco de cimento, passou-se a não saber mais se o muro deveria existir ali. não, não havia, não havia nada certo. fato é que o muro era algo novo. novo demais. novo demais para tudo o que havia se construído antes. por que não? simples. e velado. pela tentativa de tentar escalar juntos. fato é que viveu-se sem o muro. e eles chegaram. poderiam voltar. poderiam esquecer. podia-se esquecer? poderiam, inclusive, pular o muro, uma vez que não sabemos o tamanho de suas pernas. fato é que, cara a cara com o saco de silêncio, perguntou-se se o muro era, de fato, para eles. e se o muro for para nós? e se o muro tirar o nosso sono outra noite? e se? sem mais. deixou-se que o muro viesse e tentou-se juntar a nova perspectiva deste muro às outras novas. comprou-se um sapato de escalada, para os dias de frio e um freezer com cervejas, para deixar do lado de fora nos dias de calor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

mudando de assunto

ela leu e riu. viu que o que existia ali era somente um gosto por coisas antigas e uma vontade almodovariana de colorir o papel que dissolveu na enxurrada. lembrou dos livros novos, dos dentes novos, dos novos quadros e da luz que entra no quarto novo. riu, não leu mais, não disse mais uma palavra sobre o assunto e guardou as lembranças longe da pele, em local seco e arejado.

ano novo

bêbada de mim, passei noites à luz das tochas destecendo a trama que, exaustiva e descuidadamente, tecia durante os dias. passei dias sobrevoando um nada, acontecido naquele dia em que entrei na piscina e pedi pra ser afogada. naquele dia, que já não me lembro qual, entrou água em meu ouvido e deixei de te ouvir. deixei de ouvir. e ouvi demais. descobri que correr é saudável. aprendi a fixar um ponto lá na frente pra não tontear. avistei e perdi o trajeto. quando vejo, e quando vejo, estou com os dois pés fincados naquele lugar, que também não sei mais qual é. por outro lado, lanço vôos no futuro e (parece que) vejo, quase que translúcido, um fut... fut. foot. feet. dois. fincados. um com uma marca que não é minha. o outro marcado a fogo no dia que não sei qual. "gastaram-se os meses e os dias cumpriram o seu termo". nós cumprimos os dias e o nosso papel. viva o viver que é etcétera! um brinde às viradas de mesa, aos bilhetes que ainda deixo pra mim mesma na geladeira e aos cães, estes animais fiéis, "jóias caras e acinzeladas" que sentem o cheiro e guardam as histórias.