segunda-feira, 10 de agosto de 2009

a quatro mãos

contra-afeto/ continuação do texto do dia 15 de julho, enviada por léo costa:

(...) "o mesmo véu de todos os voôs, o que desafia desfiladeiros e que ilumina as visões dos vales, que acompanha o pássaro e seu bater de asas. não vi as mesmas coisas, vi as minhas coisas, a menina e as cores cegas do arco-íris e um tesouro que nem quer se esconder, que não quer mapas com um xis marcado.
o véu de uma noiva do sol, do céu e daquela flor que tem um cheiro que lembra meus doze, onze, nove anos, minha vida em um canto, antes das viagens, antes de palcos e cenas ensaiadas.o menino fica lá, bem guardado,(o baú dos tesouros?, dos besouros?).
toda cor que agora o véu quer mostrar, do alto, sentindo leve vento no rosto, entre orquídeas e ciprestes, entres deuses, alerquins e meus pequenos demônios, o ar.

o véu vem feito um toque suave na pele, nos genitais, nos mais decididos ais, nos suspiros e respiros. numa alegria qualquer, mas ímpar."

domingo, 2 de agosto de 2009

se houvesse cais

sem cais, a moça se deu conta de que as palavras das cartas que guardava haviam naufragado no copo de vinho onde a negociação se firmara. e o que ela poderia fazer? o vinho que ela armazenava ainda estava nos tonéis à espera do calor do brinde. em vão. vinagre era. mas, mesmo sem palavras, as cartas estavam ali. ela tentava desfazer-se delas, mas sempre tropeçava em alguma lembrança. afinal, eram rastros recentes perseguindo pés ainda confusos, apaixonados. eram promessas que a deixavam sem saber bem de quando as cartas eram. no entanto, sabia que as palavras nadavam e que as letras boiavam à espera de algo que as amarrasse. e foi um sonho que as reorganizou. no sonho, a moça via, do alto da montanha mais distante, uma festa na qual não queria estar. de lá só lhe restava "contemplar as próprias alucinações" e derreter-se junto à sua intuição. mas era lá que estava todo o vinho. e como era um sonho, a moça pode descer, quase alada de seu véu, e buscar o que era seu. mesmo sem isca, era como se as letras que boiavam pulassem no anzol. ela tentou juntar o que pode, ali, sozinha. na montanha, haveria colo. e cais. e amor. tudo aconteceu muito rapidamente. o susto da descoberta somou-se ao que no fundo ela sempre soubera, desde o dia em que tropeçara em uma carta que não era sua. o que parecia sem importância naquele tempo, era decisivo agora, diante da bifurcação. muita coisa ainda se confundia, mas a moça tinha paz. e calma. e sorria. sabia que tudo passaria. e que talvez, um dia, ela crescesse para passarinho... pra poder fazer de qualquer árvore, um porto.