domingo, 2 de agosto de 2009

se houvesse cais

sem cais, a moça se deu conta de que as palavras das cartas que guardava haviam naufragado no copo de vinho onde a negociação se firmara. e o que ela poderia fazer? o vinho que ela armazenava ainda estava nos tonéis à espera do calor do brinde. em vão. vinagre era. mas, mesmo sem palavras, as cartas estavam ali. ela tentava desfazer-se delas, mas sempre tropeçava em alguma lembrança. afinal, eram rastros recentes perseguindo pés ainda confusos, apaixonados. eram promessas que a deixavam sem saber bem de quando as cartas eram. no entanto, sabia que as palavras nadavam e que as letras boiavam à espera de algo que as amarrasse. e foi um sonho que as reorganizou. no sonho, a moça via, do alto da montanha mais distante, uma festa na qual não queria estar. de lá só lhe restava "contemplar as próprias alucinações" e derreter-se junto à sua intuição. mas era lá que estava todo o vinho. e como era um sonho, a moça pode descer, quase alada de seu véu, e buscar o que era seu. mesmo sem isca, era como se as letras que boiavam pulassem no anzol. ela tentou juntar o que pode, ali, sozinha. na montanha, haveria colo. e cais. e amor. tudo aconteceu muito rapidamente. o susto da descoberta somou-se ao que no fundo ela sempre soubera, desde o dia em que tropeçara em uma carta que não era sua. o que parecia sem importância naquele tempo, era decisivo agora, diante da bifurcação. muita coisa ainda se confundia, mas a moça tinha paz. e calma. e sorria. sabia que tudo passaria. e que talvez, um dia, ela crescesse para passarinho... pra poder fazer de qualquer árvore, um porto.

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