terça-feira, 28 de dezembro de 2010

compreendi: nunca é sobre si mesmo. e é sempre sobre si mesmo.
sobrepor. sobre nós. entre nós. embaixo dos nós. debaixo dos nós. debaixo dos caracóis.

um soluço.
uma vontade.
e o sono que.

vem?
compreendi?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

o fora-fora que desdenha o dentro-dentro. o dentro-fora que se esconde do agora. que é isto? uma rima? um ímã. uma associação. e outra quase rima! a gente deixando de rimar com a gente mesmo, pra rimar com o... ã? arram. ã? arram. isto não rima com quase nada que penso. mas vai em associação como tudo o que até hoje se escreveu, afinal de contas, não interessa rimar. pelo menos por aqui. estabelece-se o prazo de 4 minutos e deixa-se ver até onde vai o primeiro passo. no corpo, tudo se transformou rapidamente e tudo ficou exatamente no mesmo lugar. no entanto, sinto que, mesmo na confusão entre primeiras e terceiras pessoas, algo está sendo feito. aqui. faltam 2 minutos. 2 minutos para nada. na verdade, nem relógio há. não há nada e tudo está dentro. tudo está dentro no momento em que não se consegue nomear o que é tudo. mudo. !. outra rima? chega! mas ainda falta um tempo. um tempo a ser aproveitado. que proveito tira-se do tempo quando não se quer tirar proveito de nada? há pouco disse "viva". viva-se. sem imperativo. e sem metalinguagem...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

a agenda começou a reluzir, mas jamais se fazia ao alcance. fato é que perdeu-se as horas e acumulou-se uma responsabilidade maior que o fato é. a possível presença do muro ali nunca havia sido algo amedrontador. ao contrário, seria outra perspectiva. talvez aconchegassem-se por ali. no entanto, quando deparou-se com o primeiro saco de cimento, passou-se a não saber mais se o muro deveria existir ali. não, não havia, não havia nada certo. fato é que o muro era algo novo. novo demais. novo demais para tudo o que havia se construído antes. por que não? simples. e velado. pela tentativa de tentar escalar juntos. fato é que viveu-se sem o muro. e eles chegaram. poderiam voltar. poderiam esquecer. podia-se esquecer? poderiam, inclusive, pular o muro, uma vez que não sabemos o tamanho de suas pernas. fato é que, cara a cara com o saco de silêncio, perguntou-se se o muro era, de fato, para eles. e se o muro for para nós? e se o muro tirar o nosso sono outra noite? e se? sem mais. deixou-se que o muro viesse e tentou-se juntar a nova perspectiva deste muro às outras novas. comprou-se um sapato de escalada, para os dias de frio e um freezer com cervejas, para deixar do lado de fora nos dias de calor.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

mudando de assunto

ela leu e riu. viu que o que existia ali era somente um gosto por coisas antigas e uma vontade almodovariana de colorir o papel que dissolveu na enxurrada. lembrou dos livros novos, dos dentes novos, dos novos quadros e da luz que entra no quarto novo. riu, não leu mais, não disse mais uma palavra sobre o assunto e guardou as lembranças longe da pele, em local seco e arejado.

ano novo

bêbada de mim, passei noites à luz das tochas destecendo a trama que, exaustiva e descuidadamente, tecia durante os dias. passei dias sobrevoando um nada, acontecido naquele dia em que entrei na piscina e pedi pra ser afogada. naquele dia, que já não me lembro qual, entrou água em meu ouvido e deixei de te ouvir. deixei de ouvir. e ouvi demais. descobri que correr é saudável. aprendi a fixar um ponto lá na frente pra não tontear. avistei e perdi o trajeto. quando vejo, e quando vejo, estou com os dois pés fincados naquele lugar, que também não sei mais qual é. por outro lado, lanço vôos no futuro e (parece que) vejo, quase que translúcido, um fut... fut. foot. feet. dois. fincados. um com uma marca que não é minha. o outro marcado a fogo no dia que não sei qual. "gastaram-se os meses e os dias cumpriram o seu termo". nós cumprimos os dias e o nosso papel. viva o viver que é etcétera! um brinde às viradas de mesa, aos bilhetes que ainda deixo pra mim mesma na geladeira e aos cães, estes animais fiéis, "jóias caras e acinzeladas" que sentem o cheiro e guardam as histórias.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

de repente um respiro. um novo rondando a vida. um sono que se deixa levar. desejo enorme de caminhar até o topo de uma montanha qualquer. aquela que não chega. aquela de costas infinitas. aquela que não enxergo. aquela que guardo pra o momento certo. inacreditavelmente, tem dias que nada se tem a dizer. e diz-se tudo. tem dias que a palavra não tece, mas o afeto permanece embutido no embolar que vaza da boca. tem dias de saudade de algo que não se conhece, que se oculta, de propósito. a propósito, tem dias em que finda a odisséia e vê-se tudo de fora. de lugar nenhum. de lugar outro. da borda do tecido. há dias tomo as gotas do esquecimento. agora esqueço inclusive de tomá-las. há dias espero o respiro. e me pego agora preenchida dele. um preenchimento que inevitavelmente provoca um vazio. simples. a plenitude assusta.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

não. eu não tenho plano b, caixa 2 ou resposta sábia. não sei no que o hoje vai dar. sim. tenho meus desejos. desejos que diluem-se em palavras descuidadas, em sonhos mal administrados, em fugas odisséicas. olhando a foto com bigode de algodão doce, vejo a liquidez das coisas. e a possibilidade de torná-las palpáveis. chuto o balde. escorre a água. chove, enche, bebo. encho-me. vou-me. volto. ou não. solidifico. torno a dormir. sonho outra vez. outravez. agora sem vontade de correr. pulsando, desejando. latente, latindo. uivando. pra nada. maturando. ou envelhecendo. don juan deita-se ao lado. obviamente, não vejo. não se vê quando vem. talvez seja uma forma de não esvaziar. esvaziar a expectiva. deixar que o instante encontre seu próprio estado em matéria. deixar vir descuidada a palavra. permitir que preencha. mudar de assunto. ser actante, com toda a ingenuidade da qual não se pode escapar. estar vivo no parque de diversões. saltar de cabeça. ressuscitar. insitar. de-li-ca-da-men-te. ser acontecido pelo algo. arrebatador. não planejado. e permitir que seja. ou que rache.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

re des cobrir

noite caída. como há muito não acontecia, havia uma rede. a lua, próxima, me afrontava rodeada por inúmeras estrelas. no balançar, ela fragmentava-se entre as folhas. na rede, a sombra da árvore. o barulho da caixa d'água me trazia de volta para um lugar de antes. e de agora. um ar novo, cheio de memórias. um quadro que me habita. mesmo que vez ou outra eu invente seu esquecimento.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo."

sábado, 3 de julho de 2010

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"Some, porra!"

Acordei e a poesia não estava mais. Sumiu. Assim como o navegador, o cão e o arco-íris, ela havia ido embora. Talvez ela vivesse na gaiola da menina. Ou na bicicleta do menino. Fato é que há muito a menina havia aberto a porta da gaiola que separava os pássaros. Ela havia lhes permitido cruzar! Mas a menina ainda era tão medrosa... Espera. De onde vem agora a menina? Comecei comigo, não?

Então, era eu. Sem Ana, Joana, menina, mulher, marido, lençol, trompete, pássaro. Não é fácil encontrar a palavra que cabe. A poesia foge. Corro desenfreada procurando em todas as portas, lutando por algo que nunca se lutou antes, com as armas que tenho, com as que não tenho, com as que nunca tive, com as que nunca me permiti ter. Armas dessas que dão tiro que sai pela culatra? Quase sempre. Sem saber atirar, não se acerta o alvo.

Não encontrando o alvo, corri, gritei, fugi, senti medo, senti força, sorri, falei, falei, falei, busquei, fugi, fugi, fugi. Parece que quando se quer fugir, dá-se um passo e o resto vem no piloto automático. Como agora. O assunto foge. Tudo vem ao caso. Nada vem ao caso. Nada se entrelaça. Não há tecido. Mas há saudade. Há verdade, vício, confusão. Uma forma de fugir é ficar, sem estar. Sem estar. Sem lugar. A palavra aqui não encontra um lugar. Insisto, porque escrever sempre foi muito fluido. Mas agora, agarra. Por que correr tanto pra dar sempre no mesmo lugar? Às vezes, por mais que saibamos que existem muitas portas, parece que não há saída. A saída é sumir? Acabar com a poesia, “porra”? Sim. E não. Não sei qual é a saída. Acreditava saber. Mas, no piloto automático, dei muitos passos pra trás e perdi a luz no fim do túnel. Só me faltava esta. Luz no fim do túnel? Que isso? De onde vem? A luz é da vela que a gente mesmo acende. E apaga. Apagar... É sempre uma boa idéia, mas insisto, porque nunca havia me permitido insistir. Insisto aqui porque aprendi esta outra forma de fugir. Aprendi a buscar o que jamais quero encontrar. E, como a vela que se acende, encontra-se. Insisto ainda? Parece não ter fim. Por que insisto ainda? Ninguém mais agüenta ler. Vamos, chega. Mas eu quero tanto achar a poesia! Chorar não ajuda. Não choro mais. Tem dias que não durmo também. Ontem não dormi. Agora a cabeça dói. Fiquei pensando uma forma de enterrar a poesia. Será a mesma que quero achar? Será que quero? Ai, quero dormir. Poderia ser tão fácil! Bastaria sair daqui, levantar e dormir. Daqui a quatro horas eu acordaria outra, exatamente igual. Tudo exatamente igual. Igual e completamente transformado. Porque está transformado. Apesar de cair onde não se deve. “Se beber, não dirija”. Não dirija, não invista. Espera. O caminho há de vir. A poesia também. A casa, o cachorro, a pausa. A pausa. Vou entrar de férias, sem fim.

desafeto em gotas

Parecia tão justo!
A porta era aquela.
Sem pílulas pra encolher nem aumentar.
As cores eram aquelas, o calor era aquele, era aquela pele. A casa do sol?
Não eram 80 cachorros. Era um. E era tão alegre!
Um dia começou a chover.
E não parou mais.

Daí o despejo. Uma hora a chuva encharca...

magritte encontra lacan

retroativo

"passarinho que se debruça, o vôo já está pronto"?

sexta-feira, 21 de maio de 2010

eu, geminiana, sempre tive dificuldade com caminhos. não me lembro dos trajetos, provavelmente pra não ter que escolher. nos últimos tempos, tive ao meu lado o navegador. deixei-me ser levada, queria conhecer todos aqueles caminhos que ele me mostrava. desejava descobrir com ele os caminhos. mas perdi a guia. acostumei-me. mal. bem ou mal. ontem uma curva tortuosa nos separou. perdida em uma cegueira sem fim, vi-me presa no engarrafamento. olhava para o lado e sentia sua presença no banco vazio. mas ele não estava. há tempos ele não estava. eu não estava. o carro andava só e desgovernado. cuidado. faltou. não tinha as pernas pra sair. mas queria caminhar. estava livre para desvelar por mim o que haveria pela frente. estava presa. e só. engarrafada em mim. em um eu que desconheço. em um caminho do qual tenho medo. o navegador não estava para mapear comigo o melhor rumo a se tomar. ele já havia escolhido. e eu, desaprendi a navegar. agora fico pensando em como é possível descobrir junto qual é a rua com saída. fico pensando que o navegador é a gente. é sempre a gente. penso nas corridas ganhas, nas perdidas. parecia tão justo... parecia que não importava quem navegasse, percorreríamos juntos. pareceu. o cão farejador também não está mais. hoje comemoro pela vigésima nona vez as vidas. e sinto uma saudade sem fim do que não percorri. fico com as noites perdidas pra ganhar os dias navegando. navegador mandou presente. ausente.
ana foi-se. há tempos. sem maçã, sem espelho e sem saudade.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

depois do inverno, ana percebe que a coisa mais sólida que construiu enquanto dormia foi a própria solidão. ana, geminiana. e líquida.