sábado, 31 de agosto de 2013

intercessão

ele em mim é a presentificação de qualquer coisa que já tenha ido.
é a maturação da crença no sem fim e a um só tempo no inacabado
no por vir, no que podemos vir a ser
pro outro com o outro no outro.

ele é em mim desde a minha vinda.
tão em mim seus olhos nipônicos, sua postura, seu jeito de colocar os sapatos delicada e organizadamente na entrada da casa.
seu cuidado para pisar, para chegar.
é em mim o que dele nunca consegui ter
o que nunca pude ser
o vivido através dos passos dele.
ele em mim é a paciência para ver os intermináveis jogos de futebol ou a inquietante curiosidade que alimentava as melhores primeiras conversas emersas.
para estar junto ali.
em mim, é por ele também, a lembrança de um pais que nunca vivi
que vivo intensamente agora
nos dias e nas noites. inteiras.
em mim é a lembrança do seu ar
do ar que se foi.
é a lembrança do sorriso e da covinha
dele, em mim também acidentalmente.
em mim é confusa a lembrança dele.
é presente de esmagar o ar e depois passa.
passa e fica aqui, quieta.
numa quietude a mesma do seu sorriso quando olhava da janela da rua movimentada o único passarinho
que lhe fazia companhia na cidade. grande.
grande ele em mim. em cada cova do corpo.

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